SOURCE – Pelo que observei, o álbum está tendo uma boa aceitação no cenário. A banda foi surpreendida por essa aceitação?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Olhando agora em retrospecto, sim. Ficamos parados quase quatro anos, rola muita coisa em um espaço de tempo desses. Muda o formato que a música é oferecida, mudam os meios de divulgação, o próprio catálogo da banda, já que tínhamos demos antes, ficou parado. O mundo deu três voltas e retomamos de onde paramos com uma resposta boa. Via de regra, essa resposta demora. Particularmente, atribuo isso aos que curtiam nosso trabalho antes, e não deixaram esse trampo cair no esquecimento.
SOURCE – O lançamento de um álbum não é uma grande novidade por parte de bandas piauienses. O que a banda planeja para reforçar a divulgação de seu nome no cenário?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Shows. Apesar de contarmos hoje até com assessoria de imprensa (da MS Metalpress), sem show a coisa não vira. Temos agora uma mão pra mandar CD, ver isso de resenhas, ajuda demais, mas o cara à cara é no show. Já fui moleque em show, sei o impacto dessas experiências ao vivo.
SOURCE – Com exceção do lado financeiro, qual a principal dificuldade em lançar um álbum independente no Brasil?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Tem de correr bastante atrás. Fazer o CD chegar nos lugares, fazer o nome da banda chegar nos lugares. Não dá pra ficar achando que você vai ser uma cinderela, vai dormir desconhecido numa cidade do sertão nordestino e acordar nome nacional ou internacional. Trabalho de formiguinha,diário e initerrupto. Mas ser independente, tirando os perrengues, é bem mais prazeroso.
SOURCE – Com abertura econômica, inclusão tecnológica e uma série de melhorias que o Brasil tem conseguido na última década, por que tantas bandas nacionais ainda apresentam dificuldades em demonstrar seu potencial através de trabalhos fonográficos realmente louváveis?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – É interessante você perguntar isso, pois tivemos a oportunidade e a experiência de fazer essa gravação no estúdio do nosso guitarrista Fábio Gomes, totalmente caseiro, mas um “caseiro” com o mínimo de coisas analógicas, pra não ficar aquela coisa “de plástico”, artificial. Isso não seria possível alguns anos atrás, justamente por não rolar essa democratização das novas tecnologias. A placa de som que só os estúdios tinham agora qualquer um compra de casa, liga no notebook, com microfones minimamente legais (ou não, você compra bons pela net) e a coisa acontece. O diferencial é o estudo. Tem de ler sobre o equipamento, sobre técnicas de gravação, que nem antes, aliás. Estudo é tudo na hora de fazer o diferencial. Saber no que você está mexendo, e também onde você quer chegar, porque mixagem digital é uma coisa sem fim, só que você pode burilar tanto que depois o resultado fica magrinho, fraco. Quanto mais você domina o que você está manipulando, melhor sai o resultado, e isso cria tanto o parâmetro, o padrão, quanto o diferencial.
SOURCE – Com o lançamento de um álbum underground, como vocês lidam com a pirataria e compartilhamento de músicas via Internet?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Desde os anos 1970, e o “boom” da industria do disco, a pirataria está aí. Ela não é novidade. Já conheci várias pessoas que colecionavam aqueles “bootlegs”, gravações de shows inteiros, quase 3 horas em 4 fitas K-7 (espero que seus leitores saibam o quê é isso…), e as bandas lançando discos ao vivo maquiados em estúdio, tardiamente tentando tirar um tasco do prejuízo. Hoje a música digital é uma coisa que ainda não foi explorada 100%. Vários artistas tem explorado de forma positiva o compartilhamento. Vendem shows logo após o show ter rolado, com controle total da qualidade do que é divulgado, outros colocam o preço através da consulta aos fãs, quanto eles pagariam por aqui. Tem vários caminhos a serem explorados. No nosso universo, se a pessoa recebe ou baixa, e curte, ela vai levar o CD, vai comprar a camiseta. A distância entre artista e público é minima, e o garoto saca que está valorizando o trabalho da banda que ele curte. É uma outra perspectiva.
SOURCE – Como voce avalia o cenário teresinense nos dias atuais?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Aumentou a quantidade e a diversidade de bandas e melhoraram (um pouco) os espaços. Já o público continua ciclíco: a cada seis meses mudam as caras, a fidelização da platéia continua uma luta dura. O que vejo de realmente negativo são os “roqueiros de sofá”, os caras que ficam batendo boca no facebook, postam foto da camiseta nova da banda desconhecida da cena underground do Cazaquistão no instagram, clicam que vão comparecer nos shows e nunca viram um show, por exemplo, do Megahertz, uma banda que deu visibilidade ao que é feito no Estado e que já tem aí 25 anos de carreira. Tá faltando o público deixar de ser só “doidinho” e mostrar a cara.
SOURCE – Planos para o futuro?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Início de 2015 vamos começar a mexer em material novo, possivelmente teremos outro disco lá pelo meio do ano. Talvez saia um single antes, mas isso não está plenamente definido.
SOURCE – Espaço aberto para considerações finais?
Fernando Castelo Branco (Baixo) – Agradecer, primeiramente, ao espaço que o SOURCE sempre disponibilizou pras bandas piauienses, de todos os estilos, mesmo quando era feito em outro estado e em outro formato. Agradecer o apoio das bandas, dos promotores de shows, dos veículos de divulgação, das pessoas que vão no show, que tiram fotos e nos mandam, que vem trocar uma idéia. É muito importante pra a gente sentir que não estamos passando toda essa estória sozinhos, isso nos estimula a seguir sempre em frente.
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