SOURCE – Primeiramente, parabéns pelo lançamento de Imperium. Definitivamente, um dos melhores álbuns de toda a carreira da banda. Como o Dorsal Atlântica está encarando o lançamento de Imperium?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Te agradeço pelo “um dos melhores álbuns de toda a carreira da banda”. Isso é uma vitória para quem produz música há 35 anos.
O “Imperium” é a nossa quarta “Ópera-Thrash”, nome que a imprensa estrangeira cunhou para o estilo quando foi lançado o “Searching For The Light” entre 1989 e 1990. Daí vieram “Musical Guide From Stellium” e “Alea Jacta Est”. Os três álbuns formavam uma trindade, um se conectava ao outro em diferentes dimensões. Não acreditava que retomaria o estilo ópera em 2014, mas o ambiente do país, com tanto analfabetismo político quase que me obrigou a reativar essa solução estética.
Como artista, preciso de estímulo para desenvolver ideias. No caso de Imperium, além de compor, tocar e cantar, somei outras paixões como o estudo pela história do Brasil e pelo desenho (a arte do álbum).
SOURCE – Como foi a concepção do álbum Imperium?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Por causa da campanha de crowdfunding, a nossa antiga gravadora Heavy Records decidiu retomar as atividades em 2014 e nos convidou para gravar um novo álbum. Não me parecia o suficiente gravar um disco, por melhor que fosse, mas a conversa evoluiu para um adendo contratual inédito: eu ser dono da fita matriz, apesar de a gravadora ter bancado os custos.
O conceito do Imperium é como o do CD 2012: recontar a história do Brasil, tecendo comparações entre o “passado” e o “presente”. Particularmente em “Imperium”, mostro que o Brasil nada mudou do século XIX até hoje, que os preconceitos são os mesmos, que ainda persistem os valores de uma elite escravagista, como a “classe média branca” que exibiu toda a ignorância política no dia 15 de março de 2015.
Escrevi as letras e músicas em alguns meses. Convidei o meu irmão Cláudio Lopes e o baterista Hardcore, mas expliquei que não desejava ensaiar, apenas passaria as estruturas básicas das músicas e sugeri os andamentos e arranjos. Queria fazer um ótimo álbum, com novas ideias, mas para isso eu precisava me sentir livre, sem quaisquer outros deveres ou compromissos.
SOURCE – Com o lançamento via crowdfunding do 2012, alguns projetos ficaram pendentes. Como andam a finalização desses projetos?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Na verdade, você está se referindo ao documentário “Guerrilha!” (sobre a Dorsal Atlântica), o último planejamento é que o filme fosse lançado em fevereiro de 2015, o que não ocorreu, apesar de um contrato firmado entre as partes. Toda a responsabilidade pelo atraso e descaso com o público cabem ao diretor, não à banda.
Fomos entrevistados para o filme, nada além disso, mas eu pessoalmente acabei sendo envolvido em um rodamoinho de loucura e desorganização. Meu único desejo é que os contribuintes, os apoiadores que investiram dinheiro na campanha deste filme, recebam os seus DVDs duplos com a qualidade e o acabamento profissional que todos merecem.
Fato semelhante ao que ocorreu com o documentário “Guerrilha!” foi antecedido pelo filme “Brasil Heavy Metal”. Dei o depoimento por volta de 2008 ou 2009, não me recordo. O diretor me procurou em 2012 para incluir músicas da Dorsal Atlantica na trilha sonora do filme. Ele me sugeriu regravar a faixa Guerrilha e ficou de financiar a gravação. Seria surpresa se eu contasse que nós a gravamos, mas o diretor sumiu após ter fechado o acordo para bancar os custos de estúdio?
SOURCE – Há expectativas de shows para divulgação do Imperium pelo país?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Os convites para shows são muitos, mas eu ainda preciso de um bom tempo para refletir sobre isso. Gravar um disco, ser criativo, ainda me empolga. Bem menos do que há 20 anos, é verdade, mas ainda gosto de ser desafiado artisticamente. Tocar ao vivo envolve ter que retornar a um ambiente da qual não gosto: ensaios, equipe técnica, viagens, hotéis, palco, luzes etc.
SOURCE – O Dorsal Atlântica é uma banda que ainda povoa os corações e mentes dos brasileiros. Como vocês lidam com as perguntas sobre o futuro da banda?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – A banda retornou para gravar discos e não para fazer shows, por isso não vejo como essa questão de “futuro” se encaixar. A idade me deu maior serenidade, mas também, curiosamente, não amenizou o meu ímpeto criativo. Vamos ver como eu ainda conseguirei equilibrar os pratos dessa balança…
SOURCE – É mais fácil ter uma banda nos dias atuais que no início das atividades do Dorsal Atlântica?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – São coisas diferentes. Hoje, uma criança de 4 anos mexe em um tablet com a maior facilidade. Antes, até para escrever carta, pouca gente tinha paciência. Será que isso quer dizer “progresso”? Perde-se a “alma” para que o “template” triunfe no mundo atual da praticidade. Assim como há templates, há gente-template. Há muito mais bandas do que antes, mas a cópia também é maior e inclusive muito estimulada. Criatividade, diferenciação, e personalidade são palavras que assustam o tal do “mercado”, que dita as regras.
Filosoficamente, te diria que não importa se estamos neste ou em outro século. Gente lida com as mesmas questões: ambições, inveja, fraquezas, conquistas, derrotas… E nessa batalha há os que se destacam por méritos e outros pela conveniência e peleguismo. Agora, quanto à questão “artística” – apesar de todo o meio empresarial. Não há termos de comparação entre o final dos anos 70, em que havia mais liberdade artística, e os dias de hoje onde a reprodução infinita de clichês prevalece. E não falo da criatividade de um Led Zeppelin, mas sim do punk, da new wave, do nwobhm e da vanguarda paulista. Hoje, o rock me parece apenas um velho senhor acomodado.
SOURCE – O Dorsal Atlântica tem muitos discos significativos. Qual é o seu favorito?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Álbuns são fotografias de como você vê o mundo e como o artista se vê àquele momento. Por isso não há melhor álbum. Só se pode ter 50 anos se você passou pelas décadas anteriores e cada uma delas acrescenta mais aprendizado à idade total. O que há em comum entre os trabalhos que fiz é a ousadia, não tentar ser popular por ser popular e nem ser uma banda de fácil entendimento ou para entretenimento.
SOURCE – Em 1987 a banda tocou no festival Setembro Rock em Teresina – Piauí ao lado de Vodu, Viper e Megahertz. Quais são suas lembranças daquele momento?
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Lembro do apoio do público, do fanatismo de alguns e de como o Rio era longe do nordeste e do norte do país. Lembro da peruca do vocalista do Megahertz e do equipamento precário, mas àquele momento sabíamos das dificuldades, mas nem por isso desistimos. Queríamos desbravar territórios, levar a mensagem adiante… Lembro que as passagens aéreas eram caras, que o calor era intenso e como a cidade era bonita vista do céu.
SOURCE – Espaço aberto para considerações finais.
Carlos Lopes (Voz, Guitarra) – Muito obrigado pelo espaço. Acompanhem as novidades em http://dorsalatlantica.com.br/ e https://www.facebook.com/dorsaloficial
O Imperium e o 2012 podem ser adquiridos no site da gravadora: http://www.heavyrecords.com.br
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