Enchantya

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SOURCE – Nos últimos anos, Portugal tem mostrado ao cenário mundial nomes promissores. Podemos dizer atualmente que Portugal encontra-se no mesmo patamar dos grandes centros na produção de grandes bandas?

Pedro Antunes (Keyboards) – Antes de mais, muito obrigado em nome de Enchantya pela vossa entrevista! A nível da qualidade dos músicos e produtores, diria que Portugal têm muito talento e nele se criam grandes projetos e bandas magníficas. Infelizmente os apoios do Governo Português à cultura em geral são praticamente nulos e não existe um mercado muito grande, também porque o nosso país é pequeno em relação aos outros. Quando falamos no Metal, que apenas cobre um nicho desse público, a situação fica ainda mais complicada. Então eu diria que as bandas não são muito apoiadas em Portugal, no entanto temos músicos incríveis e muito potencial, e quando nos mostramos aos outros países as reações costumam ser muito boas.

SOURCE – Além da demo lançada em 2004, a banda possui um EP e três singles. Atualmente qual a importancia do lançamento de singles para a pré-divulgação de um álbum?

Pedro Antunes (Keyboards) – Eu diria que os singles são importantes enquanto preparação para um álbum novo, para dar a conhecer ao público que a banda está de volta e também para mostrar um pouco do novo material. Os singles contribuem para manter o público interessado e informado sobre as novas músicas da banda, e também podem ajudar a trazer novos fãs e ouvintes para conhecer a nossa música. Penso que não é tão produtivo lançar o álbum inteiro de repente, sem fazer esse tipo de promoção prévia, então na nossa banda somos a favor dos singles em geral, e consideramo-los um passo importante.

SOURCE – Existe alguma diferença entre a produção da faixa Existence para o single e a presente no álbum Cerberus?

Pedro Antunes (Keyboards) – Esta pergunta é interessante, pois foi um debate entre os membros da banda. A “Existence” é uma música longa, tem seis minutos, o que não é comum quando falamos de singles promocionais. Estivémos na dúvida se deveríamos criar uma versão editada para o single, mas no final decidimos que a magia da “Existence” é fazer uma viagem sonora com o ouvinte, passando por todas as emoções que ela deve transmitir, e poderíamos estar a castrar o propósito dela se a encurtássemos. Foi então um salto de fé, e lançámos a música completa tal e qual como se pode escutar no álbum. A única diferença está na forma como no álbum completo ela vem da música anterior (Rising Star) e depois se funde com a seguinte (United we Stand), pois o “Cerberus” está produzido de forma a ligar todas as faixas entre si, sem pausas, como se fosse uma peça gigante que passa por várias energias. Essa dinâmica não existe ao lançar o tema isoladamente, e inclusive no single conseguimos ouvir um leve início da faixa seguinte. Fora esse detalhe, a música está lançada tal e qual como se pode escutar no álbum.

SOURCE – Como foi a produção do álbum Cerberus?

Pedro Antunes (Keyboards) – O Cerberus marca um período muito conturbado para todos nós. O álbum começou a ser composto pouco antes de começar a pandemia e depois vieram dois longos anos onde tivemos que gerir a composição, os ensaios e as gravações com tudo aquilo que estava a acontecer no mundo e com cada um de nós. Estamos a falar de períodos de quarentena e de proibições e limitações, e tudo isso tornou a logística muito mais complicada, e atrasou em mais de um ano a preparação e lançamento deste álbum. Por outro lado, penso que a música do Cerberus não iria ficar da mesma forma se não tivéssemos passado por todas estas provações da fase pandémica. As nossas emoções foram despertas de uma forma nunca antes vista, e consequentemente a nossa criatividade também deu passos diferentes. Houveram momentos muito difíceis, porque as condições para ser músico não foram facilitadas por tudo o que estava a acontecer no mundo, mas por outro lado obrigou a banda a levar o processo com muita calma e paciência, e dedicámos imenso tempo a cada uma destas músicas. O resultado é provavelmente o nosso melhor álbum, o mais honesto e o mais emocional, e olhamos para ele com muito sentimento porque fomos sobreviventes de tudo aquilo que vivemos nesses tempos, e saímos mais fortes. O Cerberus é o nosso testemunho disso e com certeza vai ser um álbum que mais tarde veremos em retrospetiva com muito orgulho.

SOURCE – Cerberus é um guardião metafórico, cujas três cabeças separam energias. Quais são os temas líricos abordados neste novo álbum?

Pedro Antunes (Keyboards) – Os temas líricos vão de encontro àquilo que cada uma das cabeças representa, e é por isso que o álbum está dividido em três partes. A primeira secção trata de Karma, ou seja, as nossas ações e consequências delas. Nessa parte existem temas de vingança, raiva, solidão e alguns toques de sobrenatural. Na segunda secção tratamos do Prana, a energia do universo que está presente em tudo e nos conecta uns aos outros, e as músicas pegam em temas como a união, a empatia, as conexões humanas e a interação com o próximo. A “Existence” pertence a esta secção. Depois a terceira cabeça, Anima, corresponde à alma, a energia individual de cada um de nós, e nessa secção tratamos do existencialismo, da auto-reflexão, e do legado individual. No fundo estas três energias estão em constante interação sendo interdependentes, e é nesse sentido que todas juntas formam este guardião de três cabeças, como um pilar da existência universal. No entanto, cada uma das faixas do álbum conta a sua própria história e pode ser desfrutada individualmente, que foi algo importante de conseguir também a nível de conteúdo lírico.

SOURCE – Cerberus mostra um repertório mais maduro que On Light and Wrath. Como você avalia essa evolução?

Pedro Antunes (Keyboards) – Realmente são momentos muito distintos do percurso da banda. On Light and Wrath foi um álbum criado quando a formação da banda tinha sido renovada, então todos estávamos a conhecer-nos uns aos outros, pessoalmente e musicalmente. Esse foi o nosso primeiro álbum juntos, criado nesse processo de mudança do projecto. No Cerberus, já nos conhecemos, sabemos aquilo que cada um traz para a música da banda, e a nossa interação musical é mais fluida, e nesse sentido a composição está mais madura. Houve esse processo natural de maturação e crescimento, porque à medida que tocámos juntos mais e mais, também nos fomos conhecendo melhor uns aos outros, e percebendo a visão musical de cada um. Existe também o factor individual, de crescimento musical de cada um de nós, porque à medida que um musico vai ouvindo e experimentando coisas novas, também a sua execução e visão evolui, e isso é trazido para o trabalho do grupo. É por esse motivo que temos agora um álbum que reflete esse crescimento da banda e uma nova fase evolutiva.

SOURCE – A banda lançou um Official Lyric Video para a música Existence. Como foi o processo de produção desse vídeo. Há alguma previsão de lançamento de outros vídeos?

Pedro Antunes (Keyboards) – O vídeo da Existence foi criado a partir da arte conceptual do Adrian Rosco para o nosso conceito de Cerberus. Ele criou um retrato incrível da interação das 3 forças, e achámos que seria a capa perfeita para o Existence, que no álbum se situa mesmo no centro da secção do meio, é a faixa numero 7. Então fez todo o sentido para nós representar a existência com aquela arte. A partir dessa imagem, o Carlos Guimarães, mentor da página dos Caminhos Metálicos (uma página de grande apoio ao Metal português), usou a letra da música e criou aquele lyric video. Ficámos muito gratos pelo trabalho dele, e somos também gratos por todo o apoio que ele tem dado a Enchantya e a outras bandas do nosso panorama português. Em relação a outros vídeos, teremos um vídeo com a banda a ser lançado em Fevereiro, e outro em Março, sendo então mais dois singles que serão disponibilizados antes do lançamento do álbum completo a 28 de Abril.

SOURCE – Algo mais a ser acrescentado?

Pedro Antunes (Keyboards) – Gostariamos de agradecer mais uma vez a vocês, Source, pela entrevista tão interessante, e pelo vosso apoio. Agradecemos também a todos os que têm escutado a Existence e por todas as mensagens e comentários de apoio à banda que temos recebido. De resto, estamos ansiosos por finalmente lançar o nosso novo álbum e poder tocá-lo ao vivo em todos os lugares possíveis! Esperamos que gostem do nosso novo trabalho!

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