SOURCE – Parabéns pela produção de 1755. Está belíssima. O que você poderia falar de um modo geral sobre o álbum, orquestrações nas faixas e a participação de Jon Phipps?
Fernando Ribeiro (Voz) – Muito obrigado! O album tenta contar a história da morte e do renascimento de Lisboa, a capital de Portugal em todo o seu simbolismo. Musicalmente a expressão escolhida foi um metal mais rápido e duro, fazendo a terra tremer, e o recurso às orquestrações de Jon Phipps para adicionar o tom trágico-histórico. Tentámos recriar o ambiente do séc XVIII através de coros sacro-profanos e percussões e violas para invocar o ambiente das ruas. Jon Phipps fez tudo sozinho e virtualmente. O segredo está no gosto dos arranjos, escolhidos com a banda, e tentar que a orquestra seja orgânica com a banda e não um elemento estranho. Achamos que isso foi conseguido.
SOURCE – Líricamente como você apresentaria 1755 ao público?
Fernando Ribeiro (Voz) – É uma espécie de teatro, de tragédia. É a história de como um evento natural, uma catástrofe, também permitiu a Portugal sair da Idade Média e avançar para uma nova Era, mais moderna e humana, livre da opressão católica e dos nobres. Tentei que tudo fosse uma espécie de dialogo entre os Homens e Deus, que alguém percorresse as ruas e desse conta do que se passou e quão grande era o desespero, a revolta, a confusão.
SOURCE – Embora 1755 tenha todas as letras compostas em português, o material promocional do álbum apresenta um encarte com as traduções das letras para o inglês. Qual foi o motivo delas serem gravadas em português?
Fernando Ribeiro (Voz) – Fizemos esse encarte de modo a que os fãs estrangeiros seguissem o enredo do album. Como quando se vai a um museu e há brochuras em várias línguas. Sempre foi nossa intenção fazer este disco em Português. Por motivos conceptuais achámos que ficaria mais expressivo e genuíno. E assim foi.
SOURCE – Em 1755 a banda aperfeiçoou suas influencias orientais. Você acredita que essas influencias deram um novo norte ao som da banda?
Fernando Ribeiro (Voz) – Essas influencias sempre tiveram presentes, até em 1994 no nosso disco de estreia Under the Moonspell. Penso que agora evoluímos o suficiente para as tornar mais importantes e notórias no nosso som. A musica tradicional Portuguesa, o Fado também, esta cheio destas influencias orientais e norte-africanas. Achamos um elemento bem interessante de explorar com a nossa música.
SOURCE – A cena portuguesa nunca esteve tão bem representada quanto nos dias atuais devido ao grande destaque que Portugal exerce no cenário. Como você avalia a cena musical portuguesa de um modo geral atualmente?
Fernando Ribeiro (Voz) – Há uma maior atenção sem dúvida mas nem sempre os artistas melhores chegam a essa exposição. É complicado fazer valer projectos alternativos em Portugal. Moonspell é o exemplo perfeito. Não passa na rádio mas ganha o voto anual dos ouvintes dessa mesma rádio (onde ouviram eles a música), é número 1 de vendas mas somos recusados na TV para tocar ao vivo. É meio estranho. Acho que há música burguesa e musica alternativa, de onde saem mesmo os projectos mais interessantes.
SOURCE – Como foi a escolha de Lanterna dos Afogados para a inclusão da faixa ao novo álbum?
Fernando Ribeiro (Voz) – Polémica. A banda não queria acreditar quando eu propus esse tema para fechar o disco. Mas, depois, conseguiram ver porque. A Lanterna é um hino, é muito mais que uma canção de novela, é uma canção triste com uma letra que podia ser fado, ou Portuguesa. sobre quem fica à espera, sobre quem regras (ou não) do mar. Achei perfeito e orgulho-me muito de ter tido essa ideia. Espero que os fãs de Paralamas gostem desta inusitada homenagem.
SOURCE – Recentemente a banda cancelou uma tour em comemoração de 25 anos que faria pela América Latina. Alguma previsão de apresentar uma nova tour pelo Brasil em 2018?
Fernando Ribeiro (Voz) – Foi uma decisão muito dura, que nos custou muito dinheiro e muitos fãs. Mas teve de ser, pelas razões que apresentamos e mantemos como verdadeiras. O Brasil é um público que está apenas a crescer agora connosco. Sempre tivemos muito mais sucesso em todos os outros países da América Latina que no Brasil. Esperemos que o 1755 quebre essa tendência e vamos confirmar ainda este ano as datas Brasileiras e da América Latina para a Primavera de 2018.
SOURCE – Mais uma vez, parabéns pelo novo álbum 1755. Algo mais a ser acrescentado?
Fernando Ribeiro (Voz) – Nada mais. Obrigado pela entrevista. Convido os fãs a ouvir o 1755. Um disco que conta uma história fascinante acerca da morte e ressurreição de um país: Portugal. Um abraço!
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